Durante audiência pública sobre o Julho das Pretas, realizada na última quarta-feira (30), a Câmara Municipal de Campina Grande foi palco de um momento potente de resistência e afirmação religiosa. A fala de Mãe Yara, liderança de matriz africana, foi marcada por emoção e firmeza ao rebater as violências simbólicas e estruturais enfrentadas por pessoas negras e religiosas de tradições afro-brasileiras.

“Não me tolerem, mas me respeitem. Axé e boa noite”, afirmou Mãe Yara, encerrando sua participação sob aplausos e olhares atentos. “A doença ataca qualquer corpo, independente da sua cor e da sua religião. [...] Não façam o que eles fazem. Não ataquem. Acolham. Porque a gente é mulher de acolher e não de atacar.” Completou.

O vídeo com o trecho da fala foi publicado nesta quinta-feira (31) no perfil da vereadora Jô Oliveira (PCdoB), que é autora da propositura e responsável por abrir as portas da CMCG para pautas como essa. Reconhecida como uma das vozes mais combativas da cidade na luta antirracista, Jô tem sido referência na construção de espaços de diálogo e respeito à diversidade religiosa, cultural, étnica e de gênero.

A fala de Mãe Yara se deu em um momento delicado, logo após a repercussão de declarações consideradas racistas e intolerantes feitas por um padre na cidade de Areial, também na Paraíba, que associou religiões afro-brasileiras à morte e à doença. O caso gerou indignação e já é alvo de inquérito policial.

Ao acolher e valorizar vozes como a de Mãe Yara, a vereadora Jô Oliveira reafirma seu compromisso com os direitos humanos, a liberdade religiosa e o combate à intolerância. “Contra o racismo religioso camuflado de ‘liberdade de expressão’, gritamos: Não ao preconceito e ao racismo religioso!”, afirmou a parlamentar em suas redes.

Entenda o caso de intolerância religiosa cometido por um padre envolvendo Preta Gil

A fala de Mãe Yara durante a audiência pública reverberou especialmente por ter ocorrido dias após uma denúncia de racismo religioso contra o padre Danilo César, da Paróquia de Areial, no Agreste paraibano. Durante uma missa celebrada no domingo (27) — e transmitida ao vivo pelo canal da igreja no YouTube — o sacerdote utilizou a morte da cantora Preta Gil, falecida no dia 20 de julho, para atacar as religiões de matriz africana. Em sua homilia, o padre ironizou orações feitas aos orixás e associou práticas afro-brasileiras a morte, sofrimento e inferno.

O vídeo teve ampla repercussão nas redes sociais antes de ser retirado do ar e motivou a instauração de um inquérito policial pela Polícia Civil da Paraíba, após denúncia da Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria de Souza. A Diocese de Campina Grande, responsável pela paróquia, emitiu nota informando que o sacerdote prestará os devidos esclarecimentos por meio de sua assessoria jurídica. O episódio foi amplamente repudiado por lideranças religiosas, movimentos sociais e autoridades políticas, reforçando a urgência de espaços como o promovido por Jô Oliveira, voltados à valorização da diversidade religiosa e à luta contra o racismo.