O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, em Montevidéu, após complicações causadas por um câncer no esôfago. A morte de Pepe Mujica, um dos maiores ícones da esquerda latino-americana, foi confirmada pelo atual presidente uruguaio e aliado político, Yamandú Orsi, que declarou: "Vamos sentir muito sua falta, velho querido! Obrigado por tudo que nos deste e por teu profundo amor pelo seu povo."
Conhecido mundialmente por seu estilo de vida simples, Mujica ficou famoso como o “presidente mais pobre do mundo”, por dirigir um Fusca dos anos 70 e doar grande parte do salário a projetos sociais. Seu governo (2010–2015) marcou época com políticas progressistas, como a descriminalização do aborto, a legalização da maconha e o casamento igualitário.
Mujica havia revelado em abril de 2024 que estava com câncer. Desde então, passou a viver recluso em sua chácara nos arredores de Montevidéu, com aparições públicas cada vez mais raras. Segundo sua esposa, Lucia Topolansky, Mujica estava em estágio terminal e recebia apenas cuidados paliativos.
De guerrilheiro à presidência
Pepe Mujica nasceu em 1935, em Montevidéu. Na juventude, atuou como guerrilheiro urbano no Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, que combateu a ditadura civil-militar uruguaia. Foi preso por 14 anos, sofreu torturas e permaneceu longos períodos em solitária. Sua trajetória foi retratada no filme “Uma Noite de 12 Anos”, de Álvaro Brechner.
Com o retorno da democracia, fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), integrado à Frente Ampla, aliança de esquerda que o levou ao Senado, ao Ministério da Agricultura e, finalmente, à Presidência do Uruguai.
Legado político e ético
Durante seu governo, a pobreza caiu de 39% em 2004 para 11,5% em 2015, segundo dados citados pelo historiador Rafael Nascimento (UnB). O ex-presidente também foi responsável por políticas de distribuição de laptops para alunos e professores, programas de moradia e valorização do salário mínimo.
Mais do que político, Mujica tornou-se um símbolo ético. Defendia a integração latino-americana, a solidariedade, o respeito à natureza e o consumo consciente. "Me dediquei a mudar o mundo e não mudei nada, mas me diverti", declarou em sua última entrevista, ao jornal El País, em novembro de 2024.
Em 2020, renunciou ao Senado para evitar riscos com a pandemia de covid-19. “Há uma hora de chegar e uma hora de partir na vida”, disse à época.
Um defensor da América Latina
"Ou nos integramos, ou não somos nada", costumava afirmar Mujica, que via a união da América Latina como vital para enfrentar a desigualdade global. Em suas palavras, “se não nos unirmos, não existimos”.
Sua morte representa o fim de um ciclo histórico para o progressismo latino-americano. Mujica deixa um legado que transcende o Uruguai — uma lição de coerência, simplicidade e compromisso com os mais pobres.